terça-feira, 17 de maio de 2016

"Como ser solteira"



O filme Como ser Solteira (Direção: Christian Ditter, 2016, Warner) fala sobre os significados de estar solteiro para homens e mulheres, reproduzindo alguns estereótipos que geralmente são associados aos/as solteiros/as. A personagem Alice (Dakota Johnson), uma adulta jovem, após o fim do seu relacionamento, inicia uma interação com a vida de solteira em Nova Iorque, junto à sua amiga Robin (Rebel Wilson), também adulta jovem, que é uma solteira declarada, gosta de baladas, bebedeiras, sexo casual e muita curtição. Robin demonstra uma imagem da mulher solteira, sem compromisso, irresponsável e que vive na balada. Além disso, as pessoas solteiras, no filme, são retratadas como pessoas que via de regra, buscam uma parceria amorosa, deixando de priorizar outros âmbitos da vida, como o trabalho. Robin, então, irá mostrar à amiga que acabara de se separar, “como ser solteira”.
A amizade de Alice e Robin se resume, a partir daí, à farra. Robin chega a dizer que não sai com a amiga quando esta tem namorado, porque ela “fica muito chata” (sic), ou seja, elas deixam de ir à balada, que é o seu programa preferido e onde busca encontrar homens para se relacionar casualmente. Outras solteiras que aparecem no filme são Lucy e Meg (irmã de Alice). Enquanto Lucy também se encaixa nessa busca de sexo casual, Meg tem como prioridade o trabalho, e, a princípio, não pensa em formar família, mas, apesar de negar, no filme, deixa-se entender que ela nutre dentro de si o desejo de ser mãe. No decorrer da trama, este desejo que ela tenta negar, se concretiza através de inseminação artificial. Esta mesma personagem escolhe a inseminação artificial porque opta por ser uma mãe independente. No entanto, ela termina por ser relacionar com um homem, a princípio casualmente, mas a relação se torna estável. Isto porque, comumente na mídia, o “final feliz” ainda é a constituição de família.
Um dos personagens masculinos é o também solteiro Tom, que era defensor voraz da solteirice, no sentido desta condição estar relacionada ao não compromisso com as relações amorosas. Inclusive, usava estratégias para que as mulheres não se apegassem a ele, como por exemplo, não ter água e nem comida em sua casa, de modo que após um encontro, não houvesse nenhum atrativo para permanecerem juntos. Do mesmo modo que a mídia tende a mostrar que as solteiras encontram seu par, o personagem Tom também se envolve em uma relação mais duradoura.
A solteirice é colocada majoritariamente no filme como algo transitório, como um momento de imaturidade. A exceção é Robin, que não pretende deixar de ser solteira, mostra-se ativa na busca pelo prazer sexual e casual. No entanto, é a personagem mais caricaturada e estereotipada sobre o que é ser uma mulher rica, solteira e sem compromisso, e que, como os homens, busca estratégias para encontrar parceiros sexuais. Apesar de ser rica, ela mantém um “trabalho” com a intenção de encontrar potenciais pessoas para transar, além de ficar mais próxima da amiga.
O final de Alice é o que mais surpreende no filme. Apesar de, no decorrer da trama, ela se relacionar com três homens, ela percebe que renuncia as suas vontades para agradar as pessoas com quem se relaciona, a não ser com Tom, com quem manteve uma relação estritamente sexual sem a pretensão de agradá-lo. Mostra-se insegura e pouco crítica quanto às relações amorosas porque, para ela, o mais importante é ter alguém ao seu lado. Porém, ao perceber que perde a sua identidade agindo desta forma nos relacionamentos, ela escolhe ficar sozinha e passa a aproveitar melhor o fato de estar morando só e realiza atividades de seu interesse, como por exemplo, fazer atividade física, ler e conhecer lugares novos. Ela descobre que é possível estar/morar sozinha e sentir-se feliz, trazendo um possível contraponto ao discurso midiático que vincula a felicidade das mulheres ao encontro de uma parceria amorosa (estável). No entanto, algumas contradições neste discurso midiático se apresentam no filme quando Alice se reporta à solteirice como uma condição que pode ser transitória, porque uma relação/união e possível casamento pode acontecer. O que chama atenção, contudo, é o fato de que o “final feliz” desta personagem não é um final romântico, e mesmo que isto possa parecer algo temporário, parece ser significativo.  
Espera-se que os diretores repensem a relação dicotômica que é posta: ou a pessoa fixa-se no trabalho, ou se dedica aos relacionamentos, sendo que é possível unir as duas coisas e, principalmente, possam explorar mais nos filmes o aspecto da solteirice também como uma escolha ou estilo de vida e não apenas uma fase.

(Texto escrito por Aline Pinheiro, Irani Santos e Samara Amorim. Supervisão: Darlane  Andrade)



sexta-feira, 8 de abril de 2016

Apresentação de dados preliminares sobre o estudo da solteirice 2015-2016, em Seminário

O estudo sobre solteirice que está sendo desenvolvido no programa de iniciação científica da UFBA, com bolsa FAPESB, teve seus resultados preliminares apresentados no Seminário Estudantil Sementes, em 2015. 
Vivências socioafetivas de solteiros/as da nova classe média em Salvador: dados preliminares

Resumo: O objetivo principal deste estudo é identificar e conhecer práticas sociais e afetivas de homens e mulheres adultos/as, solteiros/as que moram sozinhos/as e pertencem à nova classe média em Salvador, identificando características socioeconômicas e costumes de classe, redes de relações sociais e afetivas, práticas em torno da sexualidade e projetos para o futuro, observando diferenças de gênero e orientação sexual. O fenômeno da solteirice na contemporaneidade atrelado ao aumento dos domicílios unipessoais, é resultante de um conjunto de transformações econômicas, sociais, culturais e comportamentais que vão se sucedendo ao longo do tempo, e que tem produzido variações nas vivências das pessoas, fazendo com que este fenômeno tenha múltiplos significados. O interesse em incluir as pessoas que pertencem à chamada nova classe média (classe C) como foco de estudo se dá porque pesquisas sobre a solteirice têm privilegiado as camadas médias e altas de grandes centros urbanos, portanto, as das camadas mais baixas merecem o mesmo privilégio para a compreensão de suas dinâmicas sociais. A nova classe média tem sido composta no Brasil pela parcela da população caracterizada pelo aumento da renda, o acesso à educação, ao crédito, a bens culturais e de lazer. O estudo se fundamenta em uma perspectiva analítica interdisciplinar e feminista das relações de gênero. Será utilizada uma metodologia mista, tendo questionários e entrevistas como instrumentos, tendo os dados analisados por análise de conteúdo. A proposta é acessar pessoas solteiras, de ambos os sexos, com idade entre 30 e 60 anos, que morem sozinhas e pertençam à nova classe média. Os dados dos questionários serão analisados com auxílio do programa estatístico SPSS, dialogando com dados das entrevistas biográficas a serem realizadas com pelo menos 4 sujeitos. Neste seminário serão apresentados dados acessados nos questionários até o momento, com análise do perfil socioeconômico, e do campo da afetividade: histórico das relações amorosas, práticas sexuais atuais e projetos para o futuro relacional.  


Integrantes: Darlane Silva Vieira Andrade - Coordenador / Aline Ataide Pinheiro - Integrante / Samara Santos Amorim / Irani Santos Silva  - Integrantes.

Para acesso a toda a programação do evento, clique:

Conversando sobre a solteirice

No dia 14 de agosto de 2015, dei uma entrevista para a rádio da Universidade Federal de Minas Gerais  (Rádio UFMG Educativa 104.5) dando um panorama geral sobre estudos acerca do tema e falando um pouco sobre as dimensões da solteirice para marcar o dia que se comemora a solteirice: 15 de agosto.

Entrevista com Darlane Andrade sobre a solteirice na sociedade e o dia dos(as) solteiros(as)

domingo, 21 de fevereiro de 2016

Imagens da solteirice pós-moderna

O prazer de ser solteira é ilustrado por uma artista mexicana, contrapondo as visões negativas sobre a solteirice feminina: "uma mulher rodeada de gatos, desesperada ou neurótica são alguns dos preconceitos associados a este estado civil. Esta é precisamente a ideia oposta que se revela em Solteirice pós-moderna" nas ilustrações da mexicana Idalia Candelas. As imagens mostram como a solteirice pode ser prazeirosa.

Fonte:
http://cribeo.lavanguardia.com/estilo_de_vida/9549/el-placer-de-la-solteria-femenina-ilustrado-por-una-artista-mexicana-arrasa-en-la-red





terça-feira, 1 de setembro de 2015

A solteirice em estudo (PIBIC/ UFBA 2015-2016) e questionário para solteiros/as

A pesquisa sobre solteirice vai ter continuidade no período de 2015-2016 dentro da Universidade Federal da Bahia, em grupo de pesquisa no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica - PIBIC, com apoio da Fapesb - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia. A equipe de pesquisa é composta por: Profa. Darlane Andrade (coordenadora), Aline Pinheiro, Irani Santos, Samara Amorim (estudantes da UFBA).

O objetivo principal do estudo atual é identificar e conhecer práticas sociais e afetivas de homens e mulheres solteiros que moram sozinhos e pertencem à nova classe média em Salvador. O estudo fará uso de instrumentos quanti e qualitativos para construção de dados, que serão dialogados com estudos sobre o tema realizados pela coordenadora da pesquisa e outros em diferentes contextos. 


Os critérios para participação são: Ter idade entre 30 e 60 anos, morar sozinho(a) em Salvador e ser solteiro(a), ou seja, não estar engajado(a) em uma relação de casamento/morar junto. 

Para participar, basta solicitar o questionário por email: pesquisa.solteirice@gmail.com ou responder o questionário online (copie e cole o link)


https://docs.google.com/forms/d/1UgvPrwtGSXqS7apeom2TOEF-_cYy1kcEp67YuX72ppw/viewform?usp=send_form

Research about singleness presented in IASSCS conference in Dublin


Part of my thesis was presented at X IASSCS CONFERENCE  “Literacies and Sexualities in Cultural, Fictional, Real, and Virtual Worlds: Past, Present, Future Perfect?” that took place at Dublin City University, Ireland, in 17-20 June, 2015. It was such a pleasure to share data about sexuality of single people in Salvador and to discuss other subjects related to sexuality in South America with a researcher from Mexico, and the audience!
Abstract of the paper:  Singleness and Sexuality in Brazil
Darlane Silva Vieira Andrade, Federal University of Bahia

Brazil is internationally known as a tropical country in which people are sexually free, especially if they are not marriage. But, besides this international representation, how do single people experience sexuality themselves? The objective of this communication is mainly to present some aspects of experiences in the field of sexuality according to single people living alone in Salvador – the capital of Bahia, a state located on northeast of Brazil. It will be done using data from my Doctorate study about singleness in Salvador, which sought to comprehend and analyze how do middle class adults living alone in the capital of Bahia, experience and build meanings about the condition of being single. Based on a feminist epistemology and having gender as the main category used to analyze data, this study used mixed methods with the following instruments: structured questionnaire, applied to 76 people; focus groups with 7 participants; biographical interview with 6 people. All participants were both sex, aged 30 to 60 and most of them were heterosexual. Related to sexuality, it was investigated how their past experiences in this field were, how are they practicing sexuality currently – with whom, where, with what frequency, their opinion about sex and love, the level of satisfaction with their affective and sexual life –, and their projects to the future related to intimacy. The research collaborated for reflections about men and women´s behavior according to their singleness condition, deconstructing some gender stereotypes for example, when single women are getting used to go out with their friends and to have casual sex, just like single men do, and man affirm more than woman that getting marriage and have kids are expected for their future. It was also important to observe the possibilities that adults have to build ways of living in urban context where freedom is an important element used to manage social, affective and sexual practices, especially in Brazil that is still a country with a culture that mixes permanencies and changes in the field of intimacy.
Key words: singleness; sexuality; gender; brazilian culture

To know more about IASSCS conference, access: http://www.iasscs.org/iasscs-conferences

domingo, 22 de fevereiro de 2015

"Loucas pra casar" e a solteirice em Goiânia e Salvador

A comédia "Loucas pra casar" (2014) traz a seguinte sinopse:


"Malu (Ingrid Guimarães), Lúcia (Suzana Pires) e Maria (Tatá Werneck) encontraram o homem ideal e planejam se casar. Até que elas descobrem que esse homem, na verdade, é o mesmo: Samuel (Marcio Garcia), que vinha mantendo um namoro com todas elas nos últimos anos. As três terão que decidir se vão disputar entre si pela exclusividade ou unirem-se pela vingança. Elenco: Ingrid Guimarães, Tatá Werneck, Márcio Garcia, Suzana Pires, Fabiana Karla, Edmilson Filho, Guida Vianna, Camilla Amado Direção: Roberto Santucci, Gênero: Comédia"
Fonte: http://www.cinemark.com.br/filmes/loucas-pra-casar/5234 
Na semana de estréia, fui convidada a comentar o filme e o lugar das mulheres solteiras na sociedade atual, trazendo informações sobre minha pesquisa realizada com solteiros e solteiras em Salvador, e o repórter Renato Queiroz discutiu dados e percepções sobre as pessoas solteiras de Goiânia. A entrevista foi publicada no jornal "O Popular", de Gioânia, e rendeu muitos comentários na rede social, tanto que dei uma segunda entrevista por telefone.
Confiram a primeira entrevista completa, com comentários extras ao que foi publicado no jornal:
O que achou da forma como a temática da solteirice de mulheres na faixa dos 40 foi tratada no filme Loucas Pra Casar?

A solteirice de uma mulher na faixa dos 40 anos, que é bonita, inteligente, bem sucedida, é tratada como algo indesejado, porque o que se espera socialmente é que uma mulher com este perfil esteja casada. Assim, a personagem Malu (interpretada por Ingrid Guimarães) não se contenta em ter uma relação de namoro: ela tem que casar. E de branco, na igreja. O desespero, a insegurança, o sentimento de que está em um patamar inferior às mulheres casadas (como a personagem é vista pelas amigas, que lançam a ela um olhar de pena como se fosse a “coitadinha” que precisaria sair dessa condição para ser feliz*), são expressões de que a solteirice não é uma condição satisfatória para as mulheres – e em certa medida, também para os homens que passam dos 40 anos (no filme, Samuel, o namorado de Malu, interpretado por Márcio Garcia, é de certa forma, cobrado por sua mãe para que encontre uma mulher ideal para casar). Este é um discurso midiático que tem sido recorrente em produções brasileiras e internacionais (principalmente norte-americanas), que retrata um movimento nomeado de Backlash, por Suzan Falude, ou seja, uma tendência ao “retorno ao lar”, à valorização do modelo tradicional de mulher esposa, mãe e dona de casa, e critica as novas posturas e lugares sociais ocupados pelas mulheres para além do lar – fruto principalmente de conquistas feministas. E o lugar da mulher solteira é subversivo, porque fere modelos de feminilidade há séculos construídos, já que essa mulher não tem obrigações de mãe e esposa, e pode exercer sua sexualidade de diversas formas. Assim, esse lugar não é valorizado pela mídia em geral. As mulheres solteiras e independentes têm sido retratadas pela mídia como mulheres poderosas e livres, principalmente a partir da década de 1990 com o sucesso do seriado Sex and the city, mas, se olharmos nas entrelinhas, somente a vida conjugal e familiar darão a elas um final feliz.


*Achei interessante a cena que Malu desabafa em um encontro com as amigas que são casadas e com filhos, e afirma que não quer ter filho e que tem uma vida boa, com possibilidades de planejar uma viagem à Paris, enquanto as amigas não terão essa possibilidade devido às obrigações com os cuidados com filhos e seus maridos. Após esta cena, ela aparece sozinha no quarto, vendo uma cena romântica de um seriado na tv e comendo chocolate, ou seja, sentindo-se sozinha depois da mentira que contou sobre o fato de se sentir segura não tendo uma família. Essa cena é recorrente quando a mídia retrata mulheres bem sucedidas que não são felizes porque não tem um par ou quando o tem, não conseguem conciliar família e carreira (como nos outros filmes de comédia protagonizados por Ingrid Guimarães: “De pernas pro ar” – 1 e 2). Retratar mulheres bem sucedidas e felizes parece ainda ser um desafio para produtores, roteiristas e diretores (em sua maioria, homens), porque ainda é difícil reconhecer o que a realidade social mostra: há sim, mulheres bem sucedidas, saudáveis emocionalmente, que não necessariamente tem dificuldade de conciliar família e carreira, e que também vivem bem estando solteiras.  


A senhora acredita que há uma diferença de expectativas afetivas entre homens e mulheres nesta faixa etária?

Na minha pesquisa de doutoramento sobre a solteirice em Salvador, os/a participantes (homens e mulheres solteiros/as de classe média, residindo sozinhos/as em Salvador, com idades variando entre 30 e 60 anos), apontaram expectativas em torno da vida afetiva, apresentando proximidades e diferenças: ambos buscam satisfação no campo da vida afetiva e sexual, esperam se relacionar com uma pessoa a partir de suas características psicológicas que falam mais do jeito de ser da pessoa, do que esperam ser atraídos somente pela aparência física. Muitos esperam mais uma relação estável como o namoro do que um casamento, e principalmente buscam uma forma de manter a liberdade e a individualidade que são elementos importantes para a vida de solteiro/a. As diferenças apontadas partiram principalmente de mulheres que estão satisfeitas em se engajarem em relações afetivo-sexuais eventuais e principalmente em morarem sozinhas, e não esperam o casamento nem querem ter filhos, e de muitos homens solteiros que almejam se casar e ter filhos, rompendo com a ideia de que “toda mulher solteira espera um casamento” e “todo homem solteiro tem uma vida boêmia e não quer se casar”.

Quais as reclamações mais comuns que ouviu das mulheres na sua pesquisa sobre solteirice?

No geral, nas conversas com as mulheres solteiras, percebi que ter o cotidiano movimentado por diversas atividades de trabalho, lazer, cuidados consigo (como a prática de esportes) e o contato com diferentes pessoas que compõem uma rica rede de relações, sobressaiu-se às  discussões sobre reclamações por não estarem casadas. Claro que ouvi algumas reclamações sobre a dificuldade de encontrar uma pessoa ideal para uma relação amorosa mais duradoura e para um casamento, mas nada que deixasse essas mulheres desesperadas e obcecadas com o casamento como a personagem Malu, do filme “Loucas pra Casar”. E nem com distúrbios psíquicos relacionados a essa obsessão. Isto porque atualmente o fato da pessoa não estar casada depois dos trinta anos, não impede que tenha uma vida social, de trabalho e uma vida sexual movimentada.
Algumas reclamações que gostaria de destacar foram sobre o cotidiano do lazer das solteiras: no processo de construção dos dados foi interessante ter ido a espaços de lazer observar homens e mulheres solteiros/as em boates e bares de Salvador e de outras cidades do país. Especificamente em Salvador, ouvi muitas mulheres reclamando da falta de opções de lugares para sair quando querem dançar e encontrar pessoas da mesma faixa etária. Nas entrevistas, essa reclamação também apareceu, sinalizando que a vida noturna parece não atender democraticamente os anseios de todos/as que buscam por diversão. Outra reclamação foi o incômodo que sentem quando são abordadas por homens que insistem em ter com elas alguma aproximação de cunho sexual, considerando que estão disponíveis pelo fato de estarem solteiras. As mulheres que participaram do estudo afirmam que tem a liberdade de escolher com quem querem se relacionar sexualmente, mas não é por estarem em um bar ou boate que sempre estão disponíveis para o sexo casual (ou que o procuram nestes locais).

Existe ainda muito estigma sobre a mulher que não se casa após os 40 anos?

O estigma da “solteirona” vem sendo superado e dando abertura à imagem das “novas solteiras” como discutiu Eliane Gonçalves em estudo sobre o tema, e como vem sendo confirmado em outros estudos e na prática social. A tendência para as mulheres de classe média e alta (é importante fazer esse recorte de classe social porque a realidade das mulheres de 40 anos das camadas populares tende a ser muito diferente), após os 40 anos, é ser bem sucedida, independente e segura de si mesma, o que possibilita que escolhas sejam feitas inclusive no campo afetivo.

A antropóloga Mirian Goldenberg cunhou o termo "capital marital" para explicar que muitas brasileiras afirmam que sofrem preconceito por não serem casadas. Elas se sentem desvalorizadas ou até mesmo fracassadas por não terem o tal do "capital marital". A senhora acredita que esse sentimento um dia vai ser superado?

Homens e mulheres desde tenra idade convivem com expectativas sociais sobre o casamento e as idealizações românticas que vem sendo reproduzidas desde os contos de fada às novelas, filmes e seriados. Uma das minhas entrevistadas chegou a questionar em que medida a expectativa sobre o casamento é dela ou é do seu meio social. Identificar essa diferença é um passo importante para a construção de um projeto de vida no campo da afetividade – que pode ou não incluir o casamento. Reconhecer que as escolhas e modos de viver são diversos e tem que ser respeitados, é um passo importante para a superação do sentimento de fracasso quando a escolha ou a situação em que a pessoa está vivendo estão fora de um “padrão”. Acredito que deve ser superada a visão ainda tradicional acerca das construções de gênero que colocam homens e mulheres a seguirem modelos pré-determinados e que engessam a diversidade de expressões de identidades, sexualidades, relacionamentos e modos de vida. E as construções midiáticas têm uma função importante para promover rupturas, quando proporcionam a reflexão sobre as consequências da fixação em seguir um padrão de mulher perfeita em busca de um uma vida perfeita (que inclui ter um homem perfeito, dentro de um modelo heterossexual), como no filme “Loucas pra casar” – que, por sinal, não superou o folhetim, ao trazer o casamento como um final feliz. 

Links para acesso as reportagens de Renato Queiroz publicadas no Jornal "O Popular":

Mulheres se queixam da alta concorrência no mercado do amor em Goiânia. Disponível em: http://www.opopular.com.br/editorias/magazine/mulheres-se-queixam-da-alta-concorr%C3%AAncia-no-mercado-do-amor-em-goi%C3%A2nia-1.760569


Matéria sobre mercado afetivo de Goiânia repercute nas redes sociais. Disponível em: http://www.opopular.com.br/editorias/magazine/mat%C3%A9ria-sobre-mercado-afetivo-de-goi%C3%A2nia-repercute-nas-redes-sociais-1.762336