terça-feira, 1 de maio de 2012

"Eu confesso..." - Nota sobre as amantes


"Eu confesso... Revelação de uma amante"

é o título do romance recém-lançado pela jornalista Aline Castelo Branco. O livro foi inspirado em revelações de uma mulher - amante - que participou do programa "Confessionário", na rádio Metrópole 103.1FM. Outas histórias reveladas por homens e mulheres neste programa certamente inspiraram a jornalista. Eu e outros profissionais participamos do "Confessionário" comentando a respeito de temas relacionado ao sexo e relacionamentos. Também participei de outros programas desta rádio e pude colaborar como estudiosa da "solteirice", trazendo reflexões pautadas na pesquisa. Este também tem sido um espaço de construção de reflexões sobre o tema, a partir dos questionamentos dos/as ouvintes, e das jornalistas. 

Como viver um relacionamento satisfatório? Como encontrar a pessoa ideal? O que fazer quando há insatisfação na relação? O que fazer para sair de um relacionamento insatisfatório?O que esperar dos homens em um relacionamento? O que esperar das mulheres? Essas e outras perguntas perpassam o cotidiano dos relacionamentos, que Aline retrata em seu romance de uma forma sensível e verdadeira a partir de seus personagens: Branca e Juan.

O romance de Branca e Juan - vivido através dos encontros, troca de poesias, cartas, fotos e nas viagens, remete a forma com que homens e mulheres vivenciam um relacionamento amoroso que oras apresenta proximidade quando ambos se entregam sexual e emocionalmente, oras com significativas diferenças porque as expectativas quanto ao futura a dois, são diferentes. Branca, ao se colocar no papel de amante - no sentido de que ela se relaciona com um homem casado, mas também no papel da mulher que ama - espera que esta relação seja infinita, que sigam juntos no futuro. Já Juan, no papel de um homem que se relaciona e ama duas mulheres, espera se manter neste lugar porque não pode sair dele (ao menos naquele momento). Como esperar outros caminhos para lidar com as relações se vivemos ainda em uma sociedade desigual para homens e mulheres? Este é um grande desafio a ser enfrentado! 



                            Lançamento do livro.Abril/2012.Eduardo Carrilho, Aline C.Branco, Darlane Andrade 

CASTELO BRANCO, Aline. Eu confesso...: revelação de uma amante. Salvador: KSZ, 2012, 115f.


Na pesquisa sobre a "solteirice" em Salvador...

em uma amostra de 100 sujeitos (53% mulheres), somente uma pequena porcentagem praticou sexo com amante (4,3%) nos últimos 6 meses. A maioria fez sexo com namorado(a) (26,4%), ficante (19,3%) e recém-conhecido/a (15,7%). Ou seja, parece que nesta amostra, ser amante não é uma prática tão comum, mas podemos pensar como por vezes as mulheres solteiras principalmente (porque foram elas que pontuaram terem feito sexo com amantes, nesta amostra), são vistas como as que tem o potencial para serem amantes, sendo inclusive, uma ameaça aos casamentos. 

Já os homens, mesmo quando estão comprometidos, tem mais mobilidade para se relacionar sexualmente ou até mesmo manter relações mais estáveis com outras mulheres - ou pelo menos, tendem a sentir menos culpa do que as mulheres ao fazerem isso! Na pesquisa que realizei no mestrado, um solteiro que mora só relatou que já manteve mais de uma namorada, por mais de um ano. E não eram amantes, eram namoradas!

Acredito que, o que é interessante ao pensarmos sobre as relações amorosas, é como as práticas desafiam as regras sociais e devem ser olhadas com mais proximidade para compreendermos mais sobre seus significados.  No entanto, ainda assim, muitas práticas carregam diferenças de gênero pautadas em convenções e estereótipos que refletem ainda uma sociedade desigual. 





Salvador: a capital dos/as divorciados/as



Salvador já foi considerada a capital do/as solteiros/as dentre as outras capitais brasileiras (dados censitários de 2000). O que o recente censo do IBGE revela é que a capital baiana é também a campeã dos divórcios no Nordeste - quase 4 mil processos, no ano de 2010. 

Os motivos para o divórcio estão relacionados aos desencontros dos pares frente ao projeto de vida em comum que há de ser construído no casamento - e que faz parte da difícil tarefa de balancear a individualidade com a conjugalidade; ao fim do sentimento de amor - ou mudanças na qualidade desse sentimento, visto que as pessoas tendem a se casar mais por amor do que por outros interesses; e por outros motivos que podem gerar conflitos no casamento e desencadear no fim deste como a descoberta de uma traição, por exemplo. 

Neste processo, chama atenção como a independência feminina dá condições - materiais e emocionais - para que as mulheres que estão insatisfeitas com o casamento, optem pelo divórcio e busquem outras possibilidades. E também atenta para as mudanças nas funções sociais do casamento que tendem a atender mais as expectativas individuais do que a união econômica de duas famílias.

Vejam reportagem, na qual colaborei, no Jornal da Record da Bahia, veiculado em 22 de março deste ano.

://www.itapoanonline.com/portal/tv/bahiarecord/video.aspx?id=155509