segunda-feira, 28 de novembro de 2016

"Fluidez dos relacionamentos implica em definição de novas regras"

As regras envolvendo os relacionamentos atuais foi tema de reportagem de Juliana Rodrigues e Laís Andrade para o "Impressão digital" da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia - FACOM/UFBA. A professora Darlane Andrade colaborou com a reportagem, discutindo a fluidez das regras nas relações atuais e a importância da discussão de gênero para análise do tema. 

Segue um trecho da reportagem: 

"Esses questionamentos das formas de se relacionar chegaram até à academia. Na obra Amor Líquido, o sociólogo polonês Zygmunt Bauman relaciona a “fluidez” dos relacionamentos pós-modernos com a lógica da mercadoria, que passou a ter proeminência com o advento do capitalismo global. A psicanalista Eunice Tabacof demonstra concordar com o pensamento de Bauman. “Eu acho que existe uma liquidez na sociedade de maneira geral, uma liquidez nos valores, na própria forma como o mundo se desenha, uma insegurança global sobre o estar no mundo”, afirma.


Darlane Andrade, psicóloga e pesquisadora do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Mulher (Neim-Ufba), também considera que as transformações sociais das últimas décadas tiveram influência direta sobre as formas de relacionamento: “Devido a muitas mudanças sociais, históricas, culturais, econômicas e ao movimento feminista, que trouxe mudanças principalmente na sexualidade e nos papéis de gênero, a gente percebe que hoje a regra da fidelidade sofreu grandes transformações. A fidelidade maior hoje é a fidelidade ao seu desejo, e esse desejo vai nortear as escolhas para o tipo de relação que se tem”.

A pesquisadora aponta que um importante elemento das relações pós-modernas é a comunicação. Segundo Darlane, no modelo de família nuclear e patriarcal as regras já estavam pré-estabelecidas, enquanto nos dias de hoje é possível observar que as normas de cada relacionamento são uma construção mútua. “Historicamente, uma pessoa diz que está namorando com a outra quando essa relação envolve um sentimento de desejo sexual, amor, mas envolve também a questão da fidelidade. Mas se a gente for esmiuçar a relação de namoro, por exemplo, tem casais de namorados que têm a prática de troca de casais. Então, a fidelidade não é tradicional”, explica.
No entanto, para ambas as especialistas, não se pode generalizar a atual situação dos relacionamentos. Eunice considera, por exemplo, que em classes sociais mais altas ainda há a forte presença de valores tradicionais e lógicas de manutenção do patrimônio. Já Darlane acredita que a generalização é a principal falha do pensamento de autores como Bauman:

“Eles não trazem especificidades dos contextos. Seria o caso de olhar pra esses marcadores: gênero, raça, classe, pensando no local onde essas relações acontecem. Se eles falam de uma flexibilização eles estão falando também de um contexto específico. E no contexto local a gente tem que observar que nem todas as relações são tão fluidas, líquidas, assim. Tem muitas convenções que ainda perduram na nossa sociedade”."

Confira a reportagem completa em: http://impressaodigital126.com.br/?p=30900