terça-feira, 13 de setembro de 2016

Sobre o dia do Sexo e Apps

No último dia 6 de setembro foi comemorado o dia do sexo no Brasil. Esta data é celebrada desde 2008, a partir de uma estratégia de marketing da marca de preservativos Olla. Desde então, a Olla promove campanhas para oficializar a data no calendário. 

Como falar de solteirice é também falar de sexo, os/as bolsista PIBIC/UFBA, Aliane e Marcos escreveram um textinho para refletir sobre o tema a partir do que temos estudado agora: o uso de aplicativos de paquera por solteiros/as em Salvador.


Sobre Sexo e Apps
(por Aliane Lima)

Como diz a musica de Rita Lee “Amor e Sexo”: Amor é um livro, Sexo é esporte. Sexo é escolha, Amor é sorte. Amor é pensamento, teorema. Amor é novela, sexo é cinema. Sexo é imaginação, fantasia. Amor é prosa, Sexo é poesia... Na música, sexo e amor são representados como dicotômicos, onde o amor remete a algo duradouro, não pode ser escolhido, enquanto o sexo é transitório e depende da imaginação das pessoas, das suas fantasias, e é necessário que haja atração física para acontecer. Sexo é algo momentâneo, intenso... É o momento de sentir e dar prazer.

O sexo é falado, vivido, sentido, teorizado, e pode ser experienciado sem tantos pudores e de modo imediato, sem necessariamente estar vinculado ao amor. Em tempos de desenvolvimento das tecnologias de comunicação, o sexo também pode ser virtual ou do virtual, passar para o real. A busca do sentimento de satisfação desses prazeres momentâneos que o sexo pode proporcionar, pode ser alcançada utilizando os aplicativos de paquera pelos solteiros (as) disponíveis para serem acessados via smartphones, como por exemplo, o Tinder, Happn, Grindr, entre outros.

Navegando nestes aplicativos, jogos de sedução podem ser observados, posturas de homens e mulheres que expressam seus desejos e fantasias desde seus lugares de homossexuais, hetero ou bissexuais. O que tenho observado no período de uso de aplicativos por solteiros(as) em Salvador, para fins de pesquisa, foram mulheres heterossexuais mostrando atitude na investida sexual, propondo encontros e permitindo viver sua sexualidade sem silenciar os seus desejos, as suas vontades, apesar da sociedade machista que vivemos querer calar a voz das mulheres.


Tá procurando o quê?

(por Marcos Guedes)

Essa é uma das perguntas mais freqüentes feitas pelas pessoas que utilizam aplicativos de paquera. É assim mesmo: invasiva, veloz e divisora de águas.

Se você é fã de flerte às antigas, um aplicativo de paquera talvez não seja o melhor lugar para colher galanteios. É bem mais provável você se deparar com um abrupto “qual a cor da calcinha que você tá usando” / “manda nudes” que um polido “boa noite” / “olá”. Porém, se por ventura você for exceção e encontrar alguém que elogie seu sorriso antes de te convidar pra transar: abrace e proteja essa pessoa.

Sem susto. É assim mesmo, repito. É que os atuais apps de paqueras possuem um contingente enorme de experientes e impacientes membros/as das precursoras salas +18 de bate-papos virtuais, acostumados/as com live cam e masturbação após cinco minutos de chat privado. Quem já é veterano/a no uso desses aplicativos não tem mais disposição pra seduzir e quem está chegando inevitavelmente percebe que perder tempo com diálogos fáticos é sinônimo de ir pro fim da fila.

Convencionou-se, então, nesses recém ambientes de paquera (e o layout e as funções dos aplicativos em questão colaboram e muito!) uma abordagem estritamente pragmática e, sobretudo, mercadológica. Para corroborar essa minha afirmação, experimentemos analisar aplicativos de paqueras como vitrines. 

Seu corpo é o produto de venda, o aplicativo é o catálogo.

o/a cliente se depara com um variado cardápio de opções e escolhe/consome o que, obviamente, melhor corresponde com suas necessidades – geralmente momentâneas: é asiático (curti!), é gorda (curti!), é tatuado (não curti!), é loira (curti!), usa aparelho dental (não curti!), é malhado (curti!), é mais velha (curti!), é peludo (não curti!).

Do outro lado da tela teremos também das mais diversas descrições (“amo a natureza”, “sou médica”), contra indicações (“tenho filhos”, “sou fumante”), advertências (“sou capricorniana”, “não gosto de gatos”), modos de usar (“gosto que me tratem com carinho”, “adoro sexo selvagem”) e até a validade de oferta dos “produtos” (“sou turista, viajo na quarta”).

O/a mais resoluto/a, aquele/a que melhor fizer merchandising de si, ganha o precioso like e com alguma sorte até transa no fim de semana.

Enfim, nos aplicativos de paquera tudo é estratégia-meio para um fim-sexo – às vezes até aquele/a usuário/a errante, que começou a conversa com uma saudação agradável, queria na verdade angariar um público que ainda não desacostumou com afeto. Sim, ainda que algum/a freguês/a apareça nessa loja na esperança de encontrar o amor da sua vida, sua intenção final será transar com outrem.

Afinal, se você só quer companhia pra aplaudir o sol de forma descompromissada, melhor nem sair do Facebook.

E se você sequer sabe o que tá procurando, é melhor voltar pro barzinho.