No último dia 6 de setembro foi comemorado o dia do sexo no Brasil. Esta data é celebrada desde 2008, a partir de uma estratégia de marketing da marca de preservativos Olla. Desde então, a Olla promove campanhas para oficializar a data no calendário.
Como falar de solteirice é também falar de sexo, os/as bolsista PIBIC/UFBA, Aliane e Marcos escreveram um textinho para refletir sobre o tema a partir do que temos estudado agora: o uso de aplicativos de paquera por solteiros/as em Salvador.
Sobre Sexo e Apps
(por Aliane Lima)
Como diz a
musica de Rita Lee “Amor e Sexo”: Amor é
um livro, Sexo é esporte. Sexo é escolha, Amor é sorte. Amor é pensamento,
teorema. Amor é novela, sexo é cinema. Sexo é imaginação, fantasia. Amor é
prosa, Sexo é poesia... Na música, sexo e amor são representados como
dicotômicos, onde o amor remete a algo duradouro, não pode ser escolhido, enquanto
o sexo é transitório e depende da imaginação das pessoas, das suas fantasias, e
é necessário que haja atração física para acontecer. Sexo é algo momentâneo, intenso...
É o momento de sentir e dar prazer.
O sexo é falado, vivido, sentido, teorizado, e
pode ser experienciado sem tantos pudores e de modo imediato, sem
necessariamente estar vinculado ao amor. Em tempos de desenvolvimento das tecnologias
de comunicação, o sexo também pode ser virtual ou do virtual, passar para o
real. A busca do sentimento de satisfação desses prazeres momentâneos que o
sexo pode proporcionar, pode ser alcançada utilizando os aplicativos de paquera
pelos solteiros (as) disponíveis para serem acessados via smartphones, como por exemplo, o Tinder, Happn, Grindr, entre outros.
Navegando
nestes aplicativos, jogos de sedução podem ser observados, posturas de homens e
mulheres que expressam seus desejos e fantasias desde seus lugares de
homossexuais, hetero ou bissexuais. O que tenho observado no período de uso de aplicativos
por solteiros(as) em Salvador, para fins de pesquisa, foram mulheres
heterossexuais mostrando atitude na investida sexual, propondo encontros e permitindo
viver sua sexualidade sem silenciar os seus desejos, as suas vontades, apesar
da sociedade machista que vivemos querer calar a voz das mulheres.
Tá procurando o quê?
(por Marcos Guedes)
Essa é uma das
perguntas mais freqüentes feitas pelas pessoas que utilizam aplicativos de
paquera. É assim mesmo: invasiva, veloz e divisora de águas.
Se você é fã de
flerte às antigas, um aplicativo de paquera talvez não seja o melhor lugar para
colher galanteios. É bem mais provável você se deparar com um abrupto “qual a
cor da calcinha que você tá usando” / “manda nudes” que um polido “boa noite” /
“olá”. Porém, se por ventura você for exceção e encontrar alguém que elogie seu
sorriso antes de te convidar pra transar: abrace e proteja essa pessoa.
Sem susto. É
assim mesmo, repito. É que os atuais apps
de paqueras possuem um contingente enorme de experientes e impacientes
membros/as das precursoras salas +18 de bate-papos virtuais, acostumados/as com
live cam e masturbação após cinco
minutos de chat privado. Quem já é
veterano/a no uso desses aplicativos não tem mais disposição pra seduzir e quem
está chegando inevitavelmente percebe que perder tempo com diálogos fáticos é
sinônimo de ir pro fim da fila.
Convencionou-se,
então, nesses recém ambientes de paquera (e o layout e as funções dos
aplicativos em questão colaboram e muito!) uma abordagem estritamente
pragmática e, sobretudo, mercadológica. Para corroborar essa minha afirmação,
experimentemos analisar aplicativos de paqueras como vitrines.
Seu corpo é o
produto de venda, o aplicativo é o catálogo.
Lá o/a cliente se depara com um variado
cardápio de opções e escolhe/consome o que, obviamente, melhor corresponde com
suas necessidades – geralmente momentâneas: é asiático (curti!), é gorda
(curti!), é tatuado (não curti!), é loira (curti!), usa aparelho dental (não
curti!), é malhado (curti!), é mais velha (curti!), é peludo (não curti!).
Do outro lado da
tela teremos também das mais diversas descrições (“amo a natureza”, “sou
médica”), contra indicações (“tenho filhos”, “sou fumante”), advertências (“sou
capricorniana”, “não gosto de gatos”), modos de usar (“gosto que me tratem com
carinho”, “adoro sexo selvagem”) e até a validade de oferta dos “produtos”
(“sou turista, viajo na quarta”).
O/a mais
resoluto/a, aquele/a que melhor fizer merchandising
de si, ganha o precioso like e com
alguma sorte até transa no fim de semana.
Enfim, nos
aplicativos de paquera tudo é estratégia-meio para um fim-sexo – às vezes até
aquele/a usuário/a errante, que começou a conversa com uma saudação agradável,
queria na verdade angariar um público que ainda não desacostumou com afeto.
Sim, ainda que algum/a freguês/a apareça nessa loja na esperança de encontrar o
amor da sua vida, sua intenção final será transar com outrem.
Afinal, se você só quer companhia pra aplaudir o sol de forma descompromissada, melhor nem sair do Facebook.
E se você sequer sabe o que tá procurando, é melhor voltar pro barzinho.
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