O filme Como ser Solteira (Direção: Christian
Ditter, 2016, Warner) fala sobre os significados de estar solteiro para
homens e mulheres, reproduzindo alguns estereótipos que geralmente são
associados aos/as solteiros/as. A personagem Alice (Dakota Johnson), uma adulta jovem, após o fim do seu
relacionamento, inicia uma interação com a vida de solteira em Nova Iorque,
junto à sua amiga Robin (Rebel Wilson),
também adulta jovem, que é uma solteira declarada, gosta de baladas,
bebedeiras, sexo casual e muita curtição. Robin demonstra uma imagem da mulher
solteira, sem compromisso, irresponsável e que vive na balada. Além disso, as
pessoas solteiras, no filme, são retratadas como pessoas que via de regra,
buscam uma parceria amorosa, deixando de priorizar outros âmbitos da vida, como
o trabalho. Robin, então, irá mostrar à amiga que acabara de se separar, “como
ser solteira”.
A amizade de Alice e Robin se resume, a partir daí, à farra. Robin
chega a dizer que não sai com a amiga quando esta tem namorado, porque ela
“fica muito chata” (sic), ou seja, elas deixam de ir à balada, que é o seu
programa preferido e onde busca encontrar homens para se relacionar
casualmente. Outras solteiras que aparecem no filme são Lucy e Meg (irmã de
Alice). Enquanto Lucy também se encaixa nessa busca de sexo casual, Meg tem
como prioridade o trabalho, e, a princípio, não pensa em formar família, mas,
apesar de negar, no filme, deixa-se entender que ela nutre dentro de si o
desejo de ser mãe. No decorrer da trama, este desejo que ela tenta negar, se
concretiza através de inseminação artificial. Esta mesma personagem escolhe a
inseminação artificial porque opta por ser uma mãe independente. No entanto,
ela termina por ser relacionar com um homem, a princípio casualmente, mas a
relação se torna estável. Isto porque, comumente na mídia, o “final feliz”
ainda é a constituição de família.
Um dos personagens masculinos é o também solteiro Tom, que era defensor
voraz da solteirice, no sentido desta condição estar relacionada ao não
compromisso com as relações amorosas. Inclusive, usava estratégias para que as
mulheres não se apegassem a ele, como por exemplo, não ter água e nem comida em
sua casa, de modo que após um encontro, não houvesse nenhum atrativo para
permanecerem juntos. Do mesmo modo que a mídia tende a mostrar que as solteiras
encontram seu par, o personagem Tom também se envolve em uma relação mais
duradoura.
A solteirice é colocada majoritariamente no filme como algo transitório,
como um momento de imaturidade. A exceção é Robin, que não pretende deixar de
ser solteira, mostra-se ativa na busca pelo prazer sexual e casual. No entanto,
é a personagem mais caricaturada e estereotipada sobre o que é ser uma mulher
rica, solteira e sem compromisso, e que, como os homens, busca estratégias para
encontrar parceiros sexuais. Apesar de ser rica, ela mantém um “trabalho” com a
intenção de encontrar potenciais pessoas para transar, além de ficar mais
próxima da amiga.
O final de Alice é o que mais surpreende no filme. Apesar de, no
decorrer da trama, ela se relacionar com três homens, ela percebe que renuncia
as suas vontades para agradar as pessoas com quem se relaciona, a não ser com
Tom, com quem manteve uma relação estritamente sexual sem a pretensão de
agradá-lo. Mostra-se insegura e pouco crítica quanto às relações amorosas
porque, para ela, o mais importante é ter alguém ao seu lado. Porém, ao
perceber que perde a sua identidade agindo desta forma nos relacionamentos, ela
escolhe ficar sozinha e passa a aproveitar melhor o fato de estar morando só e
realiza atividades de seu interesse, como por exemplo, fazer atividade física,
ler e conhecer lugares novos. Ela descobre que é possível estar/morar sozinha e
sentir-se feliz, trazendo um possível contraponto ao discurso midiático que
vincula a felicidade das mulheres ao encontro de uma parceria amorosa
(estável). No entanto, algumas contradições neste discurso midiático se
apresentam no filme quando Alice se reporta à solteirice como uma condição que
pode ser transitória, porque uma relação/união e possível casamento pode
acontecer. O que chama atenção, contudo, é o fato de que o “final feliz” desta
personagem não é um final romântico, e mesmo que isto possa parecer algo
temporário, parece ser significativo.
Espera-se que os diretores repensem a
relação dicotômica que é posta: ou a pessoa fixa-se no trabalho, ou se dedica
aos relacionamentos, sendo que é possível unir as duas coisas e,
principalmente, possam explorar mais nos filmes o aspecto da solteirice também
como uma escolha ou estilo de vida e não apenas uma fase.
(Texto escrito por Aline Pinheiro, Irani Santos e Samara Amorim.
Supervisão: Darlane Andrade)
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