"Malu (Ingrid Guimarães), Lúcia (Suzana Pires) e Maria (Tatá Werneck) encontraram o homem ideal e planejam se casar. Até que elas descobrem que esse homem, na verdade, é o mesmo: Samuel (Marcio Garcia), que vinha mantendo um namoro com todas elas nos últimos anos. As três terão que decidir se vão disputar entre si pela exclusividade ou unirem-se pela vingança. Elenco: Ingrid Guimarães, Tatá Werneck, Márcio Garcia, Suzana Pires, Fabiana Karla, Edmilson Filho, Guida Vianna, Camilla Amado Direção: Roberto Santucci, Gênero: Comédia"
Fonte: http://www.cinemark.com.br/filmes/loucas-pra-casar/5234

Confiram a primeira entrevista completa, com comentários extras ao que foi publicado no jornal:
O que achou da forma como a temática da solteirice de mulheres na faixa
dos 40 foi tratada no filme Loucas Pra Casar?
A solteirice de uma mulher na faixa
dos 40 anos, que é bonita, inteligente, bem sucedida, é tratada como algo
indesejado, porque o que se espera socialmente é que uma mulher com este perfil
esteja casada. Assim, a personagem Malu (interpretada por Ingrid Guimarães) não
se contenta em ter uma relação de namoro: ela tem que casar. E de branco, na
igreja. O desespero, a insegurança, o sentimento de que está em um patamar
inferior às mulheres casadas (como a personagem é vista pelas amigas, que
lançam a ela um olhar de pena como se fosse a “coitadinha” que precisaria sair
dessa condição para ser feliz*), são expressões de que a solteirice não é uma
condição satisfatória para as mulheres – e em certa medida, também para os
homens que passam dos 40 anos (no filme, Samuel, o namorado de Malu,
interpretado por Márcio Garcia, é de certa forma, cobrado por sua mãe para que
encontre uma mulher ideal para casar). Este é um discurso midiático que tem sido
recorrente em produções brasileiras e internacionais (principalmente
norte-americanas), que retrata um movimento nomeado de Backlash, por Suzan Falude, ou seja, uma tendência ao “retorno ao
lar”, à valorização do modelo tradicional de mulher esposa, mãe e dona de casa,
e critica as novas posturas e lugares sociais ocupados pelas mulheres para além
do lar – fruto principalmente de conquistas feministas. E o lugar da mulher
solteira é subversivo, porque fere modelos de feminilidade há séculos
construídos, já que essa mulher não tem obrigações de mãe e esposa, e pode
exercer sua sexualidade de diversas formas. Assim, esse lugar não é valorizado
pela mídia em geral. As mulheres solteiras e independentes têm sido retratadas
pela mídia como mulheres poderosas e livres, principalmente a partir da década
de 1990 com o sucesso do seriado Sex and
the city, mas, se olharmos nas entrelinhas, somente a vida conjugal e
familiar darão a elas um final feliz.
*Achei interessante a cena que Malu
desabafa em um encontro com as amigas que são casadas e com filhos, e afirma
que não quer ter filho e que tem uma vida boa, com possibilidades de planejar
uma viagem à Paris, enquanto as amigas não terão essa possibilidade devido às
obrigações com os cuidados com filhos e seus maridos. Após esta cena, ela
aparece sozinha no quarto, vendo uma cena romântica de um seriado na tv e
comendo chocolate, ou seja, sentindo-se sozinha depois da mentira que contou
sobre o fato de se sentir segura não tendo uma família. Essa cena é recorrente
quando a mídia retrata mulheres bem sucedidas que não são felizes porque não
tem um par ou quando o tem, não conseguem conciliar família e carreira (como
nos outros filmes de comédia protagonizados por Ingrid Guimarães: “De pernas
pro ar” – 1 e 2). Retratar mulheres bem sucedidas e felizes parece ainda ser um
desafio para produtores, roteiristas e diretores (em sua maioria, homens),
porque ainda é difícil reconhecer o que a realidade social mostra: há sim,
mulheres bem sucedidas, saudáveis emocionalmente, que não necessariamente tem
dificuldade de conciliar família e carreira, e que também vivem bem estando
solteiras.
A senhora acredita que há uma diferença de expectativas afetivas entre
homens e mulheres nesta faixa etária?

Quais as reclamações mais comuns que ouviu das mulheres na sua pesquisa
sobre solteirice?
No geral, nas conversas com as
mulheres solteiras, percebi que ter o cotidiano movimentado por diversas
atividades de trabalho, lazer, cuidados consigo (como a prática de esportes) e
o contato com diferentes pessoas que compõem uma rica rede de relações,
sobressaiu-se às discussões sobre
reclamações por não estarem casadas. Claro que ouvi algumas reclamações sobre a
dificuldade de encontrar uma pessoa ideal para uma relação amorosa mais
duradoura e para um casamento, mas nada que deixasse essas mulheres
desesperadas e obcecadas com o casamento como a personagem Malu, do filme
“Loucas pra Casar”. E nem com distúrbios psíquicos relacionados a essa
obsessão. Isto porque atualmente o fato da pessoa não estar casada depois dos
trinta anos, não impede que tenha uma vida social, de trabalho e uma vida sexual
movimentada.
Algumas reclamações que gostaria de
destacar foram sobre o cotidiano do lazer das solteiras: no processo de
construção dos dados foi interessante ter ido a espaços de lazer observar homens
e mulheres solteiros/as em boates e bares de Salvador e de outras cidades do
país. Especificamente em Salvador, ouvi muitas mulheres reclamando da falta de
opções de lugares para sair quando querem dançar e encontrar pessoas da mesma
faixa etária. Nas entrevistas, essa reclamação também apareceu, sinalizando que
a vida noturna parece não atender democraticamente os anseios de todos/as que buscam
por diversão. Outra reclamação foi o incômodo que sentem quando são abordadas
por homens que insistem em ter com elas alguma aproximação de cunho sexual,
considerando que estão disponíveis pelo fato de estarem solteiras. As mulheres
que participaram do estudo afirmam que tem a liberdade de escolher com quem
querem se relacionar sexualmente, mas não é por estarem em um bar ou boate que
sempre estão disponíveis para o sexo casual (ou que o procuram nestes locais).
Existe ainda muito estigma sobre a mulher que não se casa após os 40
anos?
O estigma da “solteirona” vem sendo
superado e dando abertura à imagem das “novas solteiras” como discutiu Eliane
Gonçalves em estudo sobre o tema, e como vem sendo confirmado em outros estudos
e na prática social. A tendência para as mulheres de classe média e alta (é
importante fazer esse recorte de classe social porque a realidade das mulheres
de 40 anos das camadas populares tende a ser muito diferente), após os 40 anos,
é ser bem sucedida, independente e segura de si mesma, o que possibilita que
escolhas sejam feitas inclusive no campo afetivo.

Homens e mulheres desde tenra idade
convivem com expectativas sociais sobre o casamento e as idealizações
românticas que vem sendo reproduzidas desde os contos de fada às novelas,
filmes e seriados. Uma das minhas entrevistadas chegou a questionar em que
medida a expectativa sobre o casamento é dela ou é do seu meio social.
Identificar essa diferença é um passo importante para a construção de um
projeto de vida no campo da afetividade – que pode ou não incluir o casamento.
Reconhecer que as escolhas e modos de viver são diversos e tem que ser
respeitados, é um passo importante para a superação do sentimento de fracasso
quando a escolha ou a situação em que a pessoa está vivendo estão fora de um
“padrão”. Acredito que deve ser superada a visão ainda tradicional acerca das
construções de gênero que colocam homens e mulheres a seguirem modelos
pré-determinados e que engessam a diversidade de expressões de identidades,
sexualidades, relacionamentos e modos de vida. E as construções midiáticas têm
uma função importante para promover rupturas, quando proporcionam a reflexão
sobre as consequências da fixação em seguir um padrão de mulher perfeita em
busca de um uma vida perfeita (que inclui ter um homem perfeito, dentro de um
modelo heterossexual), como no filme “Loucas pra casar” – que, por sinal, não superou
o folhetim, ao trazer o casamento como um final feliz.
Links para acesso as reportagens de Renato Queiroz publicadas no Jornal "O Popular":
Mulheres se queixam da alta concorrência no mercado do amor em Goiânia. Disponível em: http://www.opopular.com.br/editorias/magazine/mulheres-se-queixam-da-alta-concorr%C3%AAncia-no-mercado-do-amor-em-goi%C3%A2nia-1.760569
Matéria sobre mercado afetivo de Goiânia repercute nas redes sociais. Disponível em: http://www.opopular.com.br/editorias/magazine/mat%C3%A9ria-sobre-mercado-afetivo-de-goi%C3%A2nia-repercute-nas-redes-sociais-1.762336